Após o primeiro pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro desde o resultado da eleição presidencial, o atual vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), criticou o comportamento do chefe do Executivo e a reação dos eleitores que não aceitam a derrota e participam das manifestações pedindo golpe de Estado em todo o país.
Em entrevista ao O Globo, Mourão classificou o pronunciamento de Bolsonaro como “tranquilo e sereno” e revelou que, diferente do que aconteceu, achava que o presidente iria atacar o processo eleitoral e seu adversário, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”, disse Mourão ao ser questionado sobre o que achava do resultado das urnas.
Mourão confirmou ainda que a transição entre os governos será executada pelo ministro Ciro Nogueira e que “a ponte” para o início desse processo”já foi estendida”.
O vice-presidente contou ainda que recebeu uma ligação de Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito. “É de boa educação eu me dirigir a ele e dizer que estamos em condição de recebê-lo, que a casa em que ele vai morar está em condições de ser vistoriada. Ele é um cara educado, eu também sou”, disse.
Mourão foi perguntado ainda se acredita que a demora do presidente para se pronunciar após o resultado das eleições poderia ter estimulado as manifestações bolsonaristas no país. “Deveria ter sido realizado [manifestação] quando o jogador que não deveria jogar [Lula] foi [autorizado a jogar]. Ali deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola”, afirmou.
Perguntado sobre sua relação com o presidente, Mourão afirmou que eles nunca brigaram publicamente, mas tem consciência que Bolsonaro reclamava dele. “No atacado nós temos o mesmo pensamento, mas a forma de fazer as coisas é outra”, disse, explicando que o presidente tem um perfil “mais incisivo” e de “meter o dedo nos outros”.